sexta-feira, novembro 13, 2009

Delícia (conto)

- Letícia, me conta o quê você vê nesse cara.
- Ah, Binho, não sei explicar.
- Juro, queria ter a metade da lábia que ele tem!
- Não é só lábia. Tem algo no jeito que ele abraça, o olhar dele... Uma energia diferente, dá vontade de beijar esse infeliz cada vez que ele fala meu nome.
- Será que é uma macumba?
- Hahahahahahahahaha. Idiota!
- Verdade, meu! O cara namora a menina mais gente fina que eu conheço, mas pega mais mulher que eu, que sou solteiro.
- Você é legal, Binho! É divertido, também, mas o Gábi? Nossa Senhora!
- Abre o olho, Lê. Ele nem é do tipo que respeita. Te faria gritar “NÃO PARA!” quando você começasse a querer dizer “Não, para.” Você é toda romântica, não é mulher pra ele.
- Hahahahahaha. Tá com ciúmeeees...
- É sério, porra! Se ele quisesse romance, levava a namorada pra jantar. E depois jantava ela, como ele faz com qualquer mulher que ele pega.
- É, verdade...

Sim, querido leitor, ela era do tipo de mulher que se mantinha a uma distância ‘saudável’ da tentação. Mas há ego que resista a um Gabriel nos olhando de cima a baixo? E quão longe seria uma distância ‘saudável’?
Você, leitora, negue se puder, mas duvido que nunca tenha pensado algum dia desses “Ele só é cachorro porque não encontrou a mulher certa”, e tenha se imaginado, pelo menos uns 5 segundos, namorando com o tal do cara.


Voltemos à história.

Toda vez que ele insistia, ela dizia ‘não.”
“Você namora, Gábi”, “Agora não” ou “Ainda não”.
De qualquer jeito, eram ‘amigos’. Um dia, ele ensinou “Texas Hold’em” a ela, que usou isso pra outro ‘não’: “Você quer all in sem nem esperar o blind. Assim não dá!”
Ele se divertia com os joguinhos de palavras, e se divertia com ela, também.
Um dia, entre uma sinuca e um pôquer:
- Você não tem mais desculpa, agora.
- Como é?
- Tô solteiro.
- Hummmm... Agora já dá pra considerar alguma coisa.

Mas ela não cedeu.
Sabia que era bonita e que conquistava qualquer um com aqueles olhos verdes enormes, então confiou no tempo.

“Bobinha,” – pensa o leitor mais sagaz – “cafajestes não vão atrás de mulher. Eles aproveitam as que vão atrás deles.”
O fato é que Letícia e Gabriel trocavam olhares cada vez mais eletrizantes, sem precisar falar nada para que o clima ficasse altamente sexual. Mas ele nunca tomava uma atitude...
Ela resolveu tomar uma! Sempre dava um jeito de flertar inocentemente com algum outro amigo quando ele estava perto...

“Bobinha”, insiste o leitor.

O fato é que o olhar de Gabriel inflamava a cada vez que ela fazia isso. “Ciúmes?”, pensava ela.
Cada dia ele era mais e mais doce, mais e mais cavalheiro e sedutor.
Um dia ele ganhou seu coração – apesar do fiel amigo Binho tentar abrir seus olhos.
Chegou apressado na sala em que ela estava e parou pra olhar pra ela. Precisava ir embora rápido, e foi. Não antes de voltar 3 passos para olhar de novo dentro daqueles olhos cintilantes e dizer:
- Nossa, Lê, você tá muito bonita hoje. Quer dizer, você é bonita sempre, mas hoje está linda demais.


Felizes para sempre

- Oi, Binho! Viu o Gabriel por aí?
- Vi, sim. Falando em Gabriel, você soube?
- Soube?
- Ele e a Cinthia voltaram.
- O quê!?
- É. Eles sempre voltam. Cachorro que é cachorro não larga o osso.
- Achei que ele estivesse curtindo a vida de solteiro.
- Eles sempre voltam. Deve ser amor. Sei lá.
- É. Sei lá. Mas quem liga, né!?
- Quem liga?

Letícia ficou deprimida, montou uma banda de emo e virou lésbica.

LOL.
Brincadeirinha.


Na verdade, o fim é óbvio!
Ela entendeu o porquê dos contos de fada não existirem.

...

E deu uma chance pro Binho!
Soube outro dia que o namoro anda ‘feliz para sempre’.

6 comentários:

  1. Hummmmmmm... e deu uma chance pro Binho... interessante essa parte, mein liebe!!! Belo conto hahahahahaha beeeeeeeeeeeeeeijo

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  2. Preciso preservar meu estilo "final feliz" de ser...

    Quem sabe um dia a vida não imite a arte ;)

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  3. Os finais felizes me abandonaram por um tempo, mas eu nunca desisti de procurar por aí. Encontro um ou outro pelo caminho e eles duram para sempre (pena que o pra sempre, sempre acaba)!
    Ótimos textos!
    Bjs

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  4. seus contos sempre me surpreendem *-* e eu adorei o nome da mocinha haha :D

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  5. Vem do latim ^^
    Laetitia = alegria

    (Quantas vezes eu já te contei essa história mesmo? Umas 15? LOL.)

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  6. Nicky, adorei as opiniões e os comentários irônicos do narrador no decorrer da história! Muito engraçado!

    Acho que isso é uma coisa normal -- a menina não dar bola para o melhor amigo, que às vezes é apaixonado por ela há anos, e preferir os homens mais galinhas. Sorte do Binho, que ganhou uma chance e soube aproveitar!

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