segunda-feira, novembro 30, 2009

Carta ao leitor

"Querido leitor,"

(hahahahahaha)

Por motivo de força maior - leia-se: mais facilidade de comunicação com vocês - não vamos mais deixar isso entre nós.

Vem pro wordpress comigo?
http://moniquebuzatto.wordpress.com/

;)

quarta-feira, novembro 25, 2009

Fácil (ou Considerações Sobre o Ciúmes) - conto


Bruno e Elena também protagonizam o conto "Mais uma de Amor."

-
Paulo: O seu Bruno anda publicando no Jornal "O Jornal”.
Elena: Ele não é o MEU Bruno. A gente só se pega.
Paulo: Qual é! Vocês não se desgrudam.
Elena: O que não significa que ela seja meu.
Paulo: Você tá doidinha por ele!
Elena: Ai, Paulo, me erra! Se ele quisesse namorar, ele pedia.
Paulo: Você não dá uma brecha, Lê! Desse jeito vai ficar sozinha.
Elena: Eu vou realmente ficar sozinha, quero terminar esse livro. Tchau.
Paulo: Ui ui, desculpa aí, TPM!



Ele vai jogar sinuca e ela senta numa poltrona velha e confortável que tinha no diretório, com o livro no colo e o celular do lado.


1 nova mensagem de Bruno.
“Bom Dia!”
[2 minutos depois]
“Eu sei q vc tá com o celular na mão, me dá bom dia tbm, rs.”
[3 minutos depois]
“Vou te atormentar o dia todo, até vc responder.”


1 nova mensagem de Elena.
“Bom Dia”
“Cadê vc? Não te vi no laboratório.”
“Lendo”
“Que vc tem?”
“Nada”


Ela lia "A insustentável leveza do ser"...

“A música era a negação das frases, a música era a antipalavra. [Franz] tinha vontade de ficar com Sabina num longo abraço, de calar-se, nunca mais pronunciar uma só frase, deixar o prazer confluir com o clamor orgiástico da música. Dormiu nessa bem-aventurada algazarra imaginária.”

Queria abraçar o Bruno depois de 3 dias sem vê-lo, mas não conseguia parar de pensar que ele passara o fim de semana com a amiga da sala dele, escrevendo uma pauta sobre o Dia dos Namorados. Logo o 12 de junho e com outra mulher! De repente sentiu o cheiro dele, enquanto alguém sentava no banco ao lado da poltrona.

Bruno: Oi.
Elena: Bruno?
Bruno: Você se esconde no primeiro lugar que eu te procuraria. Agora dá pra explicar o “nada” que você tem?
Elena: ...
Bruno: Aliás, oi, tudo bem?
Elena: Oi.
Bruno: Foi bom seu fim de semana?
Elena: Útil. Terminei o TCC, finalmente!

[Dava pra notar as olheiras.]

Elena: E o seu?
Bruno: Terminei aquela pauta que estava fazendo com a Tati.
Elena: hummmm.
Bruno: Não quer saber sobre o quê?
Elena: Você tinha falado. Dia dos Namorados. Com a Tati.
[Estúpido, pensou ele.]

Bruno: Você não... Peraí, Elena! O nome do seu nada é ciúmes?
[Morreu de raiva do tom lisonjeado que ele usou e tentou disfarçar.]

Elena: Pára de ser besta! Não é ciúmes coisa nenhuma... Só queria ter te visto.
Bruno: Você tá com ciúmes. [o mesmo tom encantado, que aumentou ainda mais a raiva dela.]
Elena: E se for? Nunca ficou com mulher ciumenta, não?
Bruno: Você tá com ciúmes. [estava ficando ridículo com aquela frase, o tom de voz e a cara de feliz.]



Elena fecha o livro, pega a bolsa e levanta, pronta pra ir embora dali correndo. Que menino idiota!
Bruno segura-a pelo braço e a faz ficar de frente pra ele, com um espaço entre eles que mal dava pra respirar. Pega as coisas da mão dela e coloca no banco. Ela não teve vontade de dizer nem fazer nada, só ficar ali sentindo o perfume dele, de que tanto gostava.



Bruno: Eu também senti sua falta, sua boba. Vem aqui, me dá um abraço...

Ela fez o que teria matado Franz, personagem de seu livro, de inveja e abraçou-o em silêncio durante um bom tempo.

Elena: A gente nem tem nada sério, eu não devia ficar com ciúmes.

Ele desliza a mão da cintura até o rosto dela e eles ficam se encarando, com a cumplicidade típica de dois amantes prestes a dar um beijo. O detalhe é que ainda não eram amantes, mas a química deixava no ar que era apenas uma questão de tempo.

Bruno: Eu devia ter dado um sinal de vida. Desculpa por ter sumido.
Elena: Hummmm... Tudo bem. Só não faz de novo.
Bruno: Você fica lindinha com ciúmes, eu gostei.
Elena: Tão injusto, isso! Você não tem ciúmes de mi...



Ele a faz ficar calada com um beijo.
Não aqueles beijos do tipo que davam atrás do Centro Histórico antes da aula. Era diferente. Daqueles que deixam uma mulher toda derretida, com gosto de quero mais... Ainda mais com a mão dele estrategicamente alisando a tatuagem que ela tinha na lombar, que ele descobriu que lhe causava arrepios.

Elena: Credo, eu sou muito fácil.
Bruno: Hummm... Só pra mim ou pra todo mundo?
Elena: Quê? Por quê?
Bruno: Faz 2 meses que a gente anda se pegando... Cansei. Não quero só ficar “te pegando”.
Elena: Essa palavra é horrível! “Pegando.”
Bruno: É, também não gosto. Por isso que eu pensei... A gente devia parar com isso.
Elena: Você quer parar de me ver?


Ele pega as duas mãos dela e fala em seu ouvido:


Bruno: Não. Eu gosto de você, a gente se dá bem e eu te acho a mulher mais linda da faculdade.
Elena: Exagerado...
Bruno: Você gosta de mim, também?


Em vez de responder, ela lhe dá outro beijo.

Elena: Se liga. Eu não teria ciúmes se não gostasse.

[silêncio]

Bruno: Isso quer dizer que..................................
~



E então, gente?
Isso quer dizer que.............................................

Coloca nos comentários!
Quem sabe a historinha não continua...

sábado, novembro 21, 2009

Diva (crônica)

Era a primeira vez que eu voltava ao Louvre depois de tantos anos.
Minha filha, Camila, conseguira me convencer de voltar a Paris depois que... Bon...

Não sou capaz de explicar, aos 65 anos, por que ainda me emociono diante da Vênus de Milo.

Camila só entendeu meu suspiro,
-Ah, Diva...
depois que lhe mostrei algumas páginas de um antigo diário de viagens que mantinha na casa de Paris. Tinha 20 anos quando escrevi essa lembrança mágica da minha juventude.

Minha filhinha ficou toda chorosa... Deve ser a gravidez.
-------------------------------
Paris, 23 de outubro de 19..

Meus pais sempre apoiaram minhas viagens para conhecer o mundo. Fui pro Egito ver Gizé de perto, Florida ver o Mickey, Inglaterra só pra atravessar a Abbey Road!
Não posso reclamar da  vida.
- Quer viajar no fim do ano, filhão? Fique com as médias todas acima de 8 que você vai.
E eu sempre ia. Mal sabiam que era por causa dela.
Culpa dela. Sempre por causa dela, tudo por causa dela!

Incrível como minhas memórias da infância são potencializadas conforme o tempo passa...
Por exemplo, os olhos dela, na minha mente, são duas esmeraldas cada vez mais cristalinas.
O cabelo dela da cor de granada, cada vez mais incandescente.
O que mais aumentava era o meu ódio pelo número 9!

Lembro quando minha prima mudou pra Paris ao se casar com um diplomata francês.
Fiz um escândalo para ir até o aeroporto com ela, no carro dela, no colo dela, com as minhas lágrimas sendo beijadas pela boca com o batom vermelho inesquecível dela e sentindo aquele perfume – "Ma Chérie" (minha querida) – que ficou gravado na minha mente, de tanto que ela me abraçou naquele dia.

(Devo confessar, timidamente, que todas as meninas com quem namorei até hoje só me conquistaram porque usavam esse mesmo perfume. Uma delas teria sido uma Senhora Osório em potencial, se não usasse “Bvulgari Black” – perfume de Mulher Alpha. Ciumenta demais para aceitar uma musa maior que ela. Continuei procurando o próximo "Ma Chérie". Morreria de vergonha se ela soubesse disso... )

- Não é para sempre, meu amor. - dizia -  Olha pra mim! Eu venho te visitar sempre que der. (E prometeu no meu ouvido) Vou te mandar uma carta por semana, de onde estiver!
De fato cumpriu as promessas e vinha passar 15 dias no Brasil sempre que dava. Também perdi as contas de quantos cartões postais eu recebia... Istambul, Londres, Cairo, Nova York, Vancouver, Pequin, Berlin, Veneza...
Acontece que essa lembrança do aeroporto me marcou!
Além do mais, matar a saudade com palavras, por mais doces que fossem, não se comparava a conversar com ela olhando naqueles olhos que ofuscavam qualquer presença além da dela.
Não é exagero, juro!

Mas hoje era o meu grande dia... Embarquei pelo mesmo portão que ela – o portão 9 – e pousei no mesmo Charles de Gaulle que ela... O ódio do número ia diminuindo conforme eu caminhava para fora do avião (por onde ela caminhara?), respirava aquele ar parisiense (que ela respirara?) e pegava um taxi (seria o mesmo taxista que atendeu a ela???).

Como minha professora de arte e história, tratou de arquitetar um quebra-cabeças melhor que o do Dan Brown – o qual, aliás, ela só me deixou ler porque era em inglês e depois de eu prometer ler uns 3 clássicos pra "compensar". Assim era ela.

Desculpe se afogo você nessas memórias sentimentais, leitor. Vou contar como isso começou, posso?

Sempre que eu ficava na minha avó, ela ia pra lá. Eu tinha 3 anos e as pessoas comentam coisas que, no meu inconsciente, eu já sei. Ela coloria minha infância de batom vermelho!
Chegava às 15h42, pontualmente, e me acordava da soneca da tarde com um beijo estalado e um sorriso que iluminava a tarde mais escura e mais chuvosa que possa ter existido.

Mas a lembrança consciente que eu tenho é ainda melhor.
Minha escola, quando eu tinha 5 anos, fez uma excursão à Pinacoteca do Estado, ao lado do Parque da Luz. Já foi à Pinacoteca, leitor?


Lembro-me de descer do ônibus da escola, fazer fila e seguir a “tia Fernanda”.

Eu tinha 80 cm de altura, 1 metro a menos que tenho hoje, então aquela escadaria parecia a entrada de Versailles! 
Eis que vejo, do lado direito, tal qual uma escultura romana, ela... minha diva...

Achei que era uma miragem. Mas quando ela sorriu e acenou pra mim do alto de sua bancada real – mais linda que uma reles musa pré-rafaelita -, parecia uma rainha me recebendo em seu castelo.

Essa imagem da Pinacoteca como um simples plano de fundo para minha deusa ruiva é a que vem à minha cabeça quando penso em arte.

Aprendi sobre a Irmandade pré-rafaelita com um dos postais dela, do MoMA. Continha uma charadinha que me guiou ao meu quadro preferido, me ensinando que ele fazia parte desse tal de pré-rafaelismo.
Tive a certeza absoluta de que Botticelli só o pintara porque viajou no tempo e também a viu no alto daquela escadaria como eu vi:

Tão linda... Majestosa...

De volta ao meu grande dia!
Assim que peguei um táxi no aeroporto, o chauffeur foi logo me passando um envelope branco. Soube na hora que era dela! Quem mais borrifaria “Ma Chérie” num envelope timbrado da Embaixada Francesa?

Havia a primeira pista de uma caçada. Segui seus enigmas e conheci alguns lugares de que ela falava ou escrevia com tanta paixão.

- Petiiit, você não pode perder quando vier a Paris!

Túmulo de Abelard et Helöise... Champs-Elysée... Cathédrale de Notre-Dame...
Senti um vazio imenso por ela não estar comigo nos passeios, mas cada lugar tinha uma pista nova. Não me importava em saber o destino final, contanto que me levasse a ela.

(Recordo-me de outra coisa engraçada. Obriguei minha mãe, aos 13 anos, a me colocar na Aliança Francesa. Imagina se ela esquece o português!? Até que eu terminasse o último avançado, tinha um pânico inexplicável de pensar nessa possibilidade...)

A penúltima pista estava impressa em um pergaminho.

"O Julgamento de Paris", do Rocca - que ela me mostrou no Masp e me enfeitiçou com a história da Guerra de Tróia!




Trouves la réponse que Pâris a donné, ton prix est son prix. Je t'attends... 
(Procure a resposta de Páris, seu prêmio é o prêmio dele. Estou esperando...)

Acabei de perceber que ainda não disse o nome dela. Mas não é difícil prever, visto a repetição de seu mito preferido. Páris teria o amor da mulher mais bela do mundo se escolhesse Afrodite como a "mais bela." Seu prêmio foi o amor da Helena de Tróia. O meu seria a Helena pré-rafaelita da Pinacoteca. Sim, minha prima também se chamava Helena!

- Onde eu acho uma Afrodite no meio de Paris? Ela não pode querer que eu vá para a Itália!
O chauffeur interrompeu meu raciocínio quando disse que ainda dava tempo de passar no Louvre, se eu quisesse.

- O Louvre, lógico!

Corri direto para a Vênus de Milo, sentindo o coração bater na boca.

"Cadê ela??? Será que cansou de esperar e já foi pra casa??? Será que eu me atrasei tanto assim com as pistas??? Será que estava ocupada demais pra me receber em Paris no meu primeiro dia?????"

Eu deveria saber que, como esposa de um diplomata, deveria ter mais coisas a fazer do que receber um priminho do interior...
Conformei-me com a ideia de que a última pista me daria o endereço da casa dela.

Estava na metade do corredor, exausto, quando vi um vestido vermelho passar esvoaçante e parar bem na frente da estátua.
Meu coração, antes na boca, até parou de bater.

Era a minha Vênus de Milo! Em carne, ossos, olhos de esmeralda e cabelos de granada, mais linda do que eu me lembrava.
Sorriu com a majestade da minha lembrança da Pinacoteca.
Abriu os braços com a elegância de uma rainha.
Disse num sussurro quase de francesa e os olhos calorosos de brasileira:
- Tu est arrivé!
(Você chegou!)

Recuperei o fôlego e corri para aquele abraço com o desespero que uma criança corre pros braços da mãe depois do primeiro dia de escola.
Controlei minha idolatria e disse simplesmente:

– Tu est ici!
(Você está aqui!)

Ela apontou pro meu peito e disse:

– Ah, petit, je suis toujours ici, n’est-ce pas?
(Ah, pequeno, estou sempre aqui, não é?)
-------------------------------

Eu mesmo, depois de reler o diário, me peguei respondendo:
- Oui... Toujours.

Minha filha veio sentar-se ao meu lado depois do jantar, no jardim de sua casa - que ficava no sétimo distrito de Paris, perto do Champ de Mars que elas tanto admiravam.
Eu olhava encantado para a Tour Eiffel, brilhando na noite parisiense. Outro hábito aprendido com minha prima Helena.

– Tenho duas coisas pra te dizer, papá. – Eu adorava seu sotaque de francesinha.
– Diga, chérie!
Bon... A primeira é que eu não teria te obrigado a vir a Paris se soubesse que você ia ficar triste. Desolée!
– Ah, não fiquei triste. Só emocionado. Obrigado por ter me obrigado! Merci beaucoup, petite.
– De verdade que não ficou triste?
– De verdade! Qual a outra coisa, filha?
– Hummmmmm... – ficou vermelha.
– Prometo que não conto pra ninguém!
Bon... É que eu... descobri o seu segredo!
– Segredo?

Ela sorriu.

Ah... A vida que se renova cada vez que ela sorri...

(Como era possível terem o mesmo sorriso?)

– Já sei porque você tem fugido tanto de Paris, seu velhinho sentimental!
Foi minha vez de ficar vermelho.
– Alors, nosso segredo, papá!
Ela me deixou sozinho, olhando pras luzes verdes da Tour enquanto lembrava da Helena...

Paris me deixava nostalgicamente feliz.

(O único destino que ela pode ter tido é estar no Olimpo, agora, balançando seus cabelos flamejantes enquanto ri e encanta os deuses com seu jeito impetuoso e suas histórias.)

Camila olha pra trás antes de entrar na sala novamente.

Papá?
– Oui?
Com a carência típica dos filhos caçulas e a voz embargada típica das mulheres grávidas:
– Eu pareço com ela?
– Quase, mon amour.
– Hummm...

Dou-lhe um beijo de pai coruja, na ponta do nariz, e confesso:

– Ela será eternamente a minha diva... A inspiração da minha vida...
– Que lindo, papá...
– Mas você... você é a minha própria vida. Minha vidinha com olhos de esmeralda.

Ela olhou para a Tour durante um tempo, fazendo companhia à minha solidão contemplativa.
Pôs mão na barriga de 3 meses - quase invisível, mas já seu pequeno orgulho -, e sorriu pra mim.
– Papá... Se for menina, vai se chamar Helena.

Depois disso, não disse mais nada e voltou correndo pra dentro de casa.



"Fecha os olhos e sente isso ao seu redor, petit. Tem uma vida inexplicável nessa nossa Paris, que sempre se renova! Você pode deixar Paris, mas ela nunca mais vai te deixar."

A nossa Paris.

Ah, Helena...

quinta-feira, novembro 19, 2009

Crônica Natalina

Os bancos e shoppings da Av. Paulista já têm as luzes brancas em forma de cascata, dignos de cartão postal. As esquinas têm presépios, cores, bandas! Algumas têm um coreto improvisado, com uma programação de coros natalinos.

A melhor parte é ver a cara das crianças, que olham para cada laço como se o espírito da festa estivesse ali, numa espera feroz e incansável pelo dia 25 de dezembro, quando o gorducho gargalhar um "ho ho ho".



Olho para a magia do Natal com olhos poéticos e enfeitiçados... Vejo as pessoas sorrindo com mais freqüência e dizendo frases bonitas. As lojas investem um dinheiro absurdo no marketing da felicidade, inebriando a todos com sua purpurina capitalista.



Meu editor se dá conta de que eu sempre tiro férias em Dezembro. Tento desconversar, mas ele pede para eu escrever uma crônica sobre o Natal com olhos de cachorro pidão.
- Justo o Natal!?
- Carol, você tem 7 anos de Diário de São Paulo... Não quer nem tentar?

É hoje que eu sou demitida!
Well, he's the boss...

- Tá! Vou tentar.
- Pra segunda-feira! Bom fim de semana, doçura.

Puto.
Falar da infância dá o tom de nostalgia perfeito pra textos que pretendem emocionar os outros.

Crônica Natalina
"Quando eu era criança..."
...

Não saio dessa frase. Termino no sábado...

Acontece que saio da cama num pulo às 4 am.
Meu marido se assusta e, quando eu digo que sonhei com uma árvore de Natal, ele diz que é minha Tensão pré-férias. Ri de mim, diz que daqui a pouco é dezembro, diz pra eu dormir e vira pro lado.
Devo estar ficando paranóica com a idéia do texto para o Natal.

Mas o pesadelo era a inspiração necessária para que eu abrisse o notebook na varanda e continuasse minha crônica.
Só percebi que tinha terminado de escrever quando vi que estava chorando.

(Finalmente entendo meu instinto assassino ao pensar "Don't wish me a Merry Christmas!" quando os corais de menininhas rosadas cantam alegremente nas esquinas de Nova York - meu esconderijo nessa época do ano. Nada como estourar seu cartão de crédito para não pensar nos fantasmas, não é?)

Mandei o texto pro Carlos, meu editor, no Domingo de manhã.
Ele não esperou a hora do almoço pra ligar dizendo que eu o convencera!

- Você merece as férias de Dezembro!
Eis a crônica impublicável, que me mandou sem escala pra Big Apple das meninas rosadas:
--
Crônica Natalina
por Carolina Hernandez

Quando era criança, a perua me pegava na escola e deixava na casa da vovó. Mamãe trabalhava até tarde, então jantávamos na mãe dela e só então voltávamos para a nossa. Neste dezembro de não-sei-que-ano, paramos o carro a 30 metros dali, na casa da minha tia, que acenava desesperadamente para a mamãe.

Eu, como uma criança obediente, arregalei os olhos e olhei para o outro lado o mais rápido que pude!
Prestar atenção em conversa de adulto é feio.

O olhar foi parar, ao acaso, no pisca-pisca de uma janela.

Brinquei de encontrar uma lógica na sequência que as luzes acendiam e apagavam.
Talvez eu jamais esqueça. A ordem sempre volta aos meus pesadelos cada vez que eu começo a simpatizar com a idéia da ceia, dos amigos-secretos, dos presentes...

Enquanto olhava para a árvore desenhada pelas luzinhas verdes, azuis e vermelhas, a tia Clara narrava para minha mãe, em tom de jornalista da Rede Record, o fato da semana.

- Sabe o Rodrigo, do Alício? Estava correndo na chácara com as outras crianças... aí (agradeço às forças superiores por terem me concedido a benção do esquecimento. Não suportaria viver com a minúcia dos detalhes dados pela tia Clara.)... e o Alício está agora no IML.

No IML?
IML?

Já era grandinha o suficiente - aos 12 anos - para sentir crueldade e frieza nessas três letras.

Instituto Médico Legal.

Tirei os olhos do pisca-pisca, que apagou.
- O Rodrigo morreu? - sussurrei.

Minha mãe tirou a mão do volante, olhou para mim sem dizer nada e segurou minha mão.

As luzes voltaram a piscar e eu voltei a olhar para elas, sem saber o que pensar.

O Rodrigo morreu.
Meu priminho.

Filho do tio Alício, o destemido. Lendário por ir à roda-gigante e virar 5 vezes de ponta cabeça . O cara, até então, com o sorriso mais caloroso do mundo.

Rodrigo...




Os anos passaram e me ensinaram a vida.
A vida passou e me ensinou a morte.
Minha curiosidade natural me ensinou a fé.

Eis que os anos professores finalmente transformaram-me em 'gente grande'. De criança quieta a adulta observadora, curiosa, apaixonada pela vida que me cerca e pela minha própria.

Menos pela magia do Natal.

Por 20 anos, tenho vivido com uma imagem distorcida da realidade. Não é o Natal! Era essa lembrança...

Ah, se as memórias fossem editáveis. Eu editaria só essa. A mesma...

O mesmo pesadelo:
A árvore de Natal. Rodrigo chega e tira o pisca-pisca da tomada.
Olha sério nos meus olhos, com postura de professor que dá uma ordem, e diz:
- O Natal morreu!
Eu acredito.
Depois disso, uma gargalhada gostosa de criança, que acabou de ver Tom&Jerry, e saimos correndo pra brincar de pega-pega...
Para sempre.
E eu acordo.



-
Desde aquele 14 de Dezembro, minhas 'cartas para o Papai Noel' pararam de ser escritas.
"Papai Noel, devolva o meu Natal!" é deveras complexo para vir dentro de uma caixinha com laço dourado.

"O Rodrigo morreu..." ecoa a voz da tia Clara.
Gosto da felicidade ao meu redor, mas dentro de mim há uma indiferença enorme por árvores de Natal, presentes de Natal, cartões de Natal, comida de Natal!

Tio Alício enterrou seu sorriso brilhante, então fui solidária e enterrei Papai Noel.

Já posso ouvir: "We wish you a Merry Christmas... We wish you a Merry Christmas... We wish you a Merry Christmas... And a Happy New Year."

O que me lembra de uma coisa!
Preciso comprar as passagens para Nova York!

Feliz Natal.
~

Carlos, como eu calculara, preferiu um texto do Paulo Coelho à minha 'crônica natalina'.

Melhor assim.

Confesso que se eu fosse capaz, juntaria-me às meninas rosadas de Nova York pra desejar um Feliz Natal a quem estivesse passando e pudesse nos ouvir...

Mas o máximo que consigo é ficar aqui pensando.
Será que o Rodrigo ainda pode me ouvir?
~

quarta-feira, novembro 18, 2009

O amigo (conto)

- Não gosto dela.
- Ué, por quê?
- Ah, não sei explicar. Tenho a impressão que a gente não vai se dar bem.
- Acho que você é louca.
- Hummm...

[silêncio...]

- Não é isso, Diego.
- Não?
- Você sabe que não.
- A Nanda. Você não suportava ela e agora vocês estão super amiguinhas.
- Ela começou a me tratar bem, caramba! E não somos amiguinhas, a gente só conversa.
- Meio tarde, não?
- Eu não quero dormir com ela, então não tem nada de tarde pra mim.
- Hummm...
- Ela que me tratava mal quando vocês namoravam, não vem falar que a culpa é minha!
- Como você se sentiria perto da amiga de vários anos do seu novo namorado?
- Conforme-se que não sou eu, são elas! Pára de defender a sua ex, você já terminou mesmo.

[silêncio...]

- Mas você tinha birra dela. Já pode me explicar isso, afinal?
- Fácil, ela te fazia de tonto.
- E...?
- Por quê você não gosta do Augusto?
- Marina, se liga! Toda semana ele te troca pelos amigos quando tinha que sair com você.
- My point, exactly!
- Para de falar inglês, sua babaca.
- Quê?
- Você passou o dia traduzindo, né!?
- Hahahaha. Foi sim! Foi mal.
- É engraçado quando você se confunde.
- Não foge do assunto, não!
- Que assunto?
- O Guga me deixa mal e você não gosta dele, mas você quer que eu goste das suas namoradas que te deixam mal.
- Não foi o que eu disse.
- Ah, não?
- Não.

[silêncio...]

- A Cris é meio parecida com você. Acho que vocês se dariam bem.
- Hummm... Se você não tivesse pegando ela, talvez.
- Como você é chata.
- Não sou chata, Diego. Sou ciumenta! E você é meu melhor amigo, deveria saber.
- Pior que eu sei. Acho que a gente ia se matar se a gente namorasse!
- Ou não. A gente é muito igual, ia se entediar.
- Sei lá. A gente é amigo demais pra namorar.
- Hummm...
- Mas não sei como você consegue ficar com alguém tão diferente de você. O cara é arquiteto, não fala inglês, não joga xadrez e não gosta de ler! O quê você viu nele?
- Aahh, pelo menos ele não acha que Monet é “dinheiro” em francês e que “Roland Garros” é nome de filme pornô! [...usando o mais doce e maligno dos tons de voz, que lhe era peculiar] Conhece alguém assim?
- Marina, ele demora mais tempo que você pra escolher uma roupa!
- Não precisa perder a linha, haha. Não falo mais da sua namoradinha!
- Eu não namoro com ela, a gente só tá se pegando.
- O Guga quer namorar. Não sei o que dizer.
- Mari, eu acho que... Ah, sei lá... Talvez a gente...

[os dois telefones tocam, interrompendo a frase que Diego não terminou...]

- Oi, Guga...
- Oi, Cris........... ah, pode ser.
- Só vou me trocar, então, te espero.
- A gente se encontra lá, então, daqui uma meia hora?
- Tá bom... Beijinho.
- Até daqui a pouco. Tchau.

[os dois desligam]

- Guga?
- Aham. Cris?
- Aham. Jantar?
- Sim. Cinema?
- Sim.
- Ele vai me levar ao Outback. Tenho certeza que tem segundas intenções.
- Haha, por quê?
- Comida de verdade, pra ele, é peixe cru de palitinho! Pra encarar Aussie Cheese Fries, tem coisa! Ele não ia me agradar de graça.
- Relaxa, ow. E a Cris? Quer ver Lua Nova. Que saco. Pelo menos vai sair do cinema em clima de “aaii, que lindooo!”, doida por um romance. Acho que vai compensar.
- Safado! Bom ‘cinema’ pra você, então.
- Bom jantar pra vocês, também, sua biscatinha.
- Quer ir à Pinacoteca sábado? O Guga vai jogar bola com a ‘galera’ dele.
- Que exposição?
- A gente descobre quando chegar lá. Só a gente!
- Ok. It closed, brother!
- Quê!?
- Fechou, mano! ahn, ahn?
- Besta!

[Despediram-se com um abraço.]

- E Di?
- Oi?
- Eu ainda não gosto dela.
- Já desisti, mesmo. Tchau.
- Tchau.

sexta-feira, novembro 13, 2009

Delícia (conto)

- Letícia, me conta o quê você vê nesse cara.
- Ah, Binho, não sei explicar.
- Juro, queria ter a metade da lábia que ele tem!
- Não é só lábia. Tem algo no jeito que ele abraça, o olhar dele... Uma energia diferente, dá vontade de beijar esse infeliz cada vez que ele fala meu nome.
- Será que é uma macumba?
- Hahahahahahahahaha. Idiota!
- Verdade, meu! O cara namora a menina mais gente fina que eu conheço, mas pega mais mulher que eu, que sou solteiro.
- Você é legal, Binho! É divertido, também, mas o Gábi? Nossa Senhora!
- Abre o olho, Lê. Ele nem é do tipo que respeita. Te faria gritar “NÃO PARA!” quando você começasse a querer dizer “Não, para.” Você é toda romântica, não é mulher pra ele.
- Hahahahahaha. Tá com ciúmeeees...
- É sério, porra! Se ele quisesse romance, levava a namorada pra jantar. E depois jantava ela, como ele faz com qualquer mulher que ele pega.
- É, verdade...

Sim, querido leitor, ela era do tipo de mulher que se mantinha a uma distância ‘saudável’ da tentação. Mas há ego que resista a um Gabriel nos olhando de cima a baixo? E quão longe seria uma distância ‘saudável’?
Você, leitora, negue se puder, mas duvido que nunca tenha pensado algum dia desses “Ele só é cachorro porque não encontrou a mulher certa”, e tenha se imaginado, pelo menos uns 5 segundos, namorando com o tal do cara.


Voltemos à história.

Toda vez que ele insistia, ela dizia ‘não.”
“Você namora, Gábi”, “Agora não” ou “Ainda não”.
De qualquer jeito, eram ‘amigos’. Um dia, ele ensinou “Texas Hold’em” a ela, que usou isso pra outro ‘não’: “Você quer all in sem nem esperar o blind. Assim não dá!”
Ele se divertia com os joguinhos de palavras, e se divertia com ela, também.
Um dia, entre uma sinuca e um pôquer:
- Você não tem mais desculpa, agora.
- Como é?
- Tô solteiro.
- Hummmm... Agora já dá pra considerar alguma coisa.

Mas ela não cedeu.
Sabia que era bonita e que conquistava qualquer um com aqueles olhos verdes enormes, então confiou no tempo.

“Bobinha,” – pensa o leitor mais sagaz – “cafajestes não vão atrás de mulher. Eles aproveitam as que vão atrás deles.”
O fato é que Letícia e Gabriel trocavam olhares cada vez mais eletrizantes, sem precisar falar nada para que o clima ficasse altamente sexual. Mas ele nunca tomava uma atitude...
Ela resolveu tomar uma! Sempre dava um jeito de flertar inocentemente com algum outro amigo quando ele estava perto...

“Bobinha”, insiste o leitor.

O fato é que o olhar de Gabriel inflamava a cada vez que ela fazia isso. “Ciúmes?”, pensava ela.
Cada dia ele era mais e mais doce, mais e mais cavalheiro e sedutor.
Um dia ele ganhou seu coração – apesar do fiel amigo Binho tentar abrir seus olhos.
Chegou apressado na sala em que ela estava e parou pra olhar pra ela. Precisava ir embora rápido, e foi. Não antes de voltar 3 passos para olhar de novo dentro daqueles olhos cintilantes e dizer:
- Nossa, Lê, você tá muito bonita hoje. Quer dizer, você é bonita sempre, mas hoje está linda demais.


Felizes para sempre

- Oi, Binho! Viu o Gabriel por aí?
- Vi, sim. Falando em Gabriel, você soube?
- Soube?
- Ele e a Cinthia voltaram.
- O quê!?
- É. Eles sempre voltam. Cachorro que é cachorro não larga o osso.
- Achei que ele estivesse curtindo a vida de solteiro.
- Eles sempre voltam. Deve ser amor. Sei lá.
- É. Sei lá. Mas quem liga, né!?
- Quem liga?

Letícia ficou deprimida, montou uma banda de emo e virou lésbica.

LOL.
Brincadeirinha.


Na verdade, o fim é óbvio!
Ela entendeu o porquê dos contos de fada não existirem.

...

E deu uma chance pro Binho!
Soube outro dia que o namoro anda ‘feliz para sempre’.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Sobre escritores e histórias (conto)

- Alô?
- Precisa de um título!
- O quê?
- Você foi embora sem colocar o título.
- Hernandez??? – olhou pro relógio que marcava 1:15 da manhã.
- Desculpa ligar essa hora, mas isso está me atormentando. Que título terá a nossa história?
- Hummm... Pra ser uma história, precisaria de mais tempo... e de drama! O que é gente teve foi no máximo um conto.
- Um conto à la Nelson Rodrigues ou Vinícius de Moraes?
- Nenhum. Vinícius é pra mulherzinha, Nelson é muito... muito...
- Realista?
- Calculista! Ainda assim, ele é um escritor que a gente saboreia aos poucos. Eu leria o mesmo conto uma semana inteira. Fácil!
- E se eu disser que fiquei a semana inteira com o nosso conto na cabeça?
- Hummmmm... gostou tanto assim do nosso processo criativo?
- Porque não consegui dar um título! E é só por isso que estou ligando! Se você deixar, quero publicar... Prometo que mudo os nomes, mas pensa num título e me conta.

Desliga o telefone.
- Que homem louco!


(30 minutos depois...)
Telefone toca!!!!!!!!!!!!


- Você de novo?
- Estava re-lendo o conto...
- E...?
- Não gostei do desfecho.
- Seu desfecho pra minha história provavelmente é melancólico! Não quero que você estrague tudo como fez com todas as suas...
- Você é um pouco impulsiva demais pra entender a beleza desse-
- dramalhão todo?
- ...desse tipo de literatura! A grande arte-
- ... vem da grande dor. Bla bla bla. Achei que você era um escritor barato, não um grande escritor.
- Hummmm...
- Olha... Eu sei que você insiste nessa história de “eterno enquanto dure” e que nada dura pra sempre, mas isso é muito coisa de velho!
- Não sou um Don Juan nem um príncipe encantado de 28 anos, Elena.
- Pra sua informação, senhor homem sincero, 45 anos não é nem um pouco velho. Tudo bem que o seu eu-lírico tem uns 65, de fato, mas quem conversa com você não diz mais que 35!
- Você é divertida. Mas eu ainda não gostei do seu desfecho.
- Fabio, são quase 2 horas da manhã e você quer discutir um desfecho!
- Então janta comigo daqui 18 horas.
- Conheço suas intenções por trás de um jantar.
- E...?
- É o seu jeito cavalheiro de sugerir outro... “processo criativo”?
- Dessa vez, sem tequila. Você aceitaria?
- Agora eu só quero dormir! Não quer me ligar daqui 9 horas?
- Quantos anos você tem? 18?
- Há há!
- Seu eu-lírico é uma Mae West de uns 39, mas você tem a leveza e a audácia dos 20 e poucos anos.
- Você quase me ganhou com essa.
- Eu não sei a sua idade, é sério!
- Depois que a gente decidir o desfecho, eu vejo se conto...
- A história começa bem... Um belo dia, um belo bar, aniversário de um amigo fotógrafo em comum – já que os dois são jornalistas. Vão parar no apartamento dele depois de umas tequilas. Acordam, conversam meio sem graça, riem, descobrem que têm muito em comum. Depois voltam pra cama e se divertem mais, sem tequila, e é ainda melhor que na noite anterior. Ele, lógico, vira pro lado e dorme mais um pouco – não tem mais a idade nem a energia dela. Ao vê-lo dormir – “tão bonitinho”, como ela diz-, liga o notebook dele, rezando pra que não tenha senha e pra que ele não acorde antes, e escreve um conto ‘de presente’ pra ele. Salva na área de trabalho como “Confissão para o homem sincero” e vai embora. Não deixa rastro nenhum além do cheiro no travesseiro do seu lado. Pra mim, ou ela é medrosa, ou está só usando o cara. Não sei, mas esse final em tom de “foi bom, mas a fila anda..." soa muito Cafa, não combina com você.
- Como você sabe?
- Você assinou o texto como assina a sua coluna. Confesso, procurei por você no Google, os comentários das leitoras são os melhores. Seu estilo é gostoso! Mas geralmente elas ficam alvoroçadas, esperando o próximo post... Esse final ficou muito blasé, eu diria que uma traição com as suas leitoras românticas e apaixonadas.
- Se estivesse no blog, sim, mas não escrevi pra elas, escrevi pra você. É como se a personagem estivesse sonhando e acordasse. Ela sabe que precisa voltar pro mundo real e volta. É uma personagem complexa, mas não quer se envolver demais, nada de muito drama. A minha coluna fala principalmente de sexo e do príncipe encantado, não é nada muito literário, por isso que a mulherada gosta. Resolvi arriscar um estilo diferente, sei que você gosta de finais meio tristes.
- Só nos romances. O começo está ótimo, mas o final chegou antes da gente aproveitar o meio... Entendeu?
- Sim. Não. Ai, não sei. São duas e treze da manhã! Você fala da gente ou do conto?
- O conto não é sobre a gente? É tarde, vou te deixar dormir...
- Obrigada, Boa noite!

Desligou. Que homem irritante.
A conversa tirou seu sono, então foi pra varanda esvaziar a cabeça, enquanto acendia um, dois, três cigarros...

3:02 a.m.

Estava cansada das suas histórias de 5000 caracteres e ele não era nenhum cafajeste, além de inteligente e divertido... Os óculos davam aquele charme que ela gostava, também.

- Hummmm... Por quê não?

Correu pro telefone e ligou de volta pra ele.

- Fabio?
- Oi, Elena.
- Não consegui pensar no título ainda, mas quero mudar o final.
- Achei que você tinha gostado.
- Não quis dizer o final do conto.
- Então quis dizer...
- Que eu vou jantar com você.

Sorriu e desligou o telefone.
~


Capítulo 2

(...)